"Operação de escala limitada". Israel exorta 100 mil palestinianos a deixarem Rafah

por Cristina Sambado - RTP
Hatem Khaled - Reuters

As Forças Armadas israelitas estão a aconselhar os civis palestinianos que estão em Rafah a abandonar a cidade e a deslocarem-se para “zonas humanitárias”. Os 100 mil deslocados são exortados a deslocarem-se para as cidades de Khan Younis e Al Muwassi, onde já foram instaladas tendas equipadas com hospitais de campanha e alimentos.

Após sete meses de ofensiva contra o Hamas, Israel afirma que Rafah abriga milhares de combatentes do movimento radical palestiniano e que a vitória é impossível sem tomar a cidade.

O exército está a encorajar os residentes da parte oriental de Rafah a deslocarem-se para as zonas humanitárias alargadas”, avançou, em comunicado.

A ONU estimou que cerca de 1,2 milhões de pessoas, a maior parte delas deslocadas pelos combates, estão em Rafah, contra a qual Israel insiste há meses que tenciona levar a cabo uma ofensiva militar de grande envergadura. O exército israelita garantiu que a operação de retirada dos habitantes era temporária e “de âmbito limitado”. No entanto, não confirmou se era o início de uma invasão mais ampla da cidade. Em outubro, Israel também não anunciou formalmente o lançamento da invasão terrestre que continua até hoje.

A iniciativa surge um dia depois de os militantes do Hamas terem efetuado um ataque a partir de Rafah, que matou três soldados israelitas.As brigadas Ezzedine al-Qassam reivindicaram a responsabilidade pelo ataque, o que levou Israel a encerrar a passagem utilizada para transportar ajuda para Gaza.
O Hamas já afirmou que a ordem de evacuação de Rafah é “uma escalada perigosa e que terá consequências”.

Iniciámos uma operação de escala limitada para retirar temporariamente as pessoas que vivem na parte oriental de Rafah”, afirmou um porta-voz do exército numa conferência de imprensa, repetindo: “Esta é uma operação de escala limitada”.

Questionado sobre o número de pessoas afetadas, o porta-voz disse que “a estimativa é de cerca de 100 mil pessoas (...) por enquanto”.
Em comunicado, o exército indicou que “os apelos à deslocação temporária para a zona humanitária serão transmitidos através de folhetos, SMS, chamadas telefónicas e mensagens em árabe nos meios de comunicação social”.


Um residente de Rafah avançou à agência France Presse que algumas pessoas tinham recebido mensagens de voz nos telemóveis para saírem e mensagens de texto com um mapa a mostrar para onde ir.

Após sete meses de ofensiva contra o Hamas, Israel afirma que Rafah abriga milhares de combatentes do grupo islâmico palestiniano e que a vitória é impossível sem tomar a cidade.

O porta-voz do exército acrescentou que “o plano foi concebido para manter os civis fora de perigo” e que o objetivo “é lutar contra o Hamas, não contra o povo e Gaza. E é por isso que estamos a proceder a esta retirada específica”.

O chefe da CIA, William Burns, um dos principais mediadores nas conversações de cessar-fogo, deveria encontrar-se esta segunda-feira com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Não é claro se esta reunião vai realizar-se.
Com mais de um milhão de palestinianos deslocados a abrigarem-se em Rafah, a perspetiva de uma operação com elevado número de baixas preocupa as potências ocidentais e o vizinho Egito.

O conflito no Médio Oriente começou depois de o Hamas ter surpreendido Israel com um ataque transfronteiriço a 7 de outubro, no qual 1.200 pessoas foram mortas e 252 levadas como reféns, de acordo com os registos israelitas.

Benjamin Netanyahu prometeu lançar uma ofensiva contra Rafah independentemente do resultado das conversações em curso, através dos países mediadores, para tentar impor uma trégua associada à libertação dos reféns detidos em Gaza.

As novas conversações de sábado e domingo no Cairo esbarraram na intransigência das duas partes, com o Hamas a continuar a pedir um cessar-fogo definitivo enquanto Israel promete destruir o movimento islâmico palestiniano, que lançou um ataque sem precedentes no seu território a 7 de outubro, desencadeando a guerra.

A ofensiva israelita lançada na Faixa de Gaza como represália causou até agora 34.683 mortos, segundo o Ministério da Saúde do Hamas. Israel prometeu aniquilar o movimento islamita, no poder em Gaza desde 2007, e considera-o uma organização terrorista, tal como os Estados Unidos e a União Europeia.

c/ agências internacionais
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